Não há como presenciarmos todos os fatos que acontecem com todos os seres do mundo. Grande parte da história da humanidade chega as nós por meio de mensagens que expressam o mundo. Tais mensagens fazem uso da linguagem verbal e da linguagem não-verbal.
MENSAGENS NÃO-VERBAIS
Ao observarmos as duas ilustrações que seguem, loga á primeira vista, notamos a semelhança entre as mensagens, ambas não-verbais, tratam do mesmo assunto: a migração. No entanto, ao compararmos as duas notamos grandes diferenças:
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A paisagem, as pessoas e os animais que aparecem na primeira mensagem (foto) já existiam antes da fotografia ser tirada. Isto é, o fotógrafo registrou um fato real, produzindo uma mensagem DENOTATIVA da realidade, na qual predomina a OBJETIVIDADE.
A paisagem e os elementos humanos que aparecem na segunda mensagem (quadro de Portinari) não existiam antes de esse quadro ser pintado. Ou seja, o pintor CRIOU UMA NOVA REALIDADE, produzindo uma mensagem CONOTATIVA, NA QUAL PREDOMINA A subjetividade, a visão que o artista teve sobre este tema.
O quadro abaixo faz um breve resumo comparativo de elementos das duas mensagens:
TEXTO 2:
“A caatinga estendia-se, de um vermelho indeciso
salpicado de manchas brancas que eram ossadas. O vôo negro dos urubus fazia
círculos altos em redor de bichos moribundos.
– Anda, excomungado.
O pirralho não se mexeu, e Fabiano desejou matá-lo. Tinha o coração grosso, queria responsabilizar alguém pela sua desgraça. A seca aparecia-lhe como um fato necessário – e a obstinação da criança irritava-o. Certamente esse obstáculo miúdo não era culpado, mas dificultava a marcha, e o vaqueiro precisava chegar, não sabia onde.
Tinham deixado os caminhos, cheios de espinho e seixos, fazia horas que pisavam a margem do rio, a lama seca e rachada que escaldava os pés.
Pelo espírito atribulado do sertanejo passou a idéia de abandonar o filho naquele descampado. Pensou nos urubus, nas ossadas, coçou a barba ruiva e suja, irresoluto, examinou os arredores.
Sinhá Vitória esticou o beiço indicando vagamente uma direção e afirmou com alguns sons guturais que estavam perto. Fabiano meteu a faca na bainha, guardou-a no cinturão, acocorou-se, pegou no pulso do menino, que se encolhia, os joelhos encostados ao estômago, frio como um defunto. Aí a cólera desapareceu e Fabiano teve pena. Impossível abandonar o anjinho aos bichos do mato. Entregou a espingarda a Sinhá Vitória, pôs o filho no cangote, levantou-se, agarrou os bracinhos que lhe caíam sobre o peito, moles, finos como cambitos. Sinhá Vitória aprovou esse arranjo, lançou de novo a interjeição gutural, designou os juazeiros invisíveis.
E a viagem prosseguiu, mais lenta, mais arrastada, num silêncio grande.
Ausente do companheiro, a cachorra Baleia tomou a frente do grupo. Arqueada, as costelas à mostra, corria ofegando, a língua fora da boca. E de quando em quando se detinha, esperando as pessoas, que se retardavam.”
O TEXTO 1 é um trecho de uma reportagem da Revista Veja, portanto, trata-se de um relato, um fato real. Já o segundo, TEXTO 2, é um fragmento do famoso romance de Graciliano Ramos, "Vidas Secas", ou seja, uma narrativa, uma ficção.
A seguir, um quadro comparando os principais elementos das dias mensagens, dos dois textos:
O quadro abaixo faz um breve resumo comparativo de elementos das duas mensagens:
MENSAGEM A
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MENSAGEM B
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|
Fato
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Migração
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Migração
|
Linguagem
utilizada para expressar o fato
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Não-verbal
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Não-verbal
|
Função
da Linguagem predominante na mensagem
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Referencial
|
Poética
|
Objetivo
do emissor
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Informar
|
Provocar emoção
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Ponto
de vista do emissor
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Objetivo
|
Subjetivo
|
Elementos
humanos
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Pessoas
|
Personagens
|
Paisagem ao fundo da
mensagem
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Real
|
Inventada,
Ficção
|
MENSAGENS VERBAIS
Ainda sobre o mesmo tema: a migração, vamos, agora, comparar duas mensagens verbais:
TEXTO 1:
“No lombo da jumenta
Branquinha estão empilhados os pertences da família: duas panelas pretas, três
pratos, três colheres, três copos, uma moringa e uma esteira. Há ainda um
rádio, com defeito, que ora vai no lombo da jumenta, ora na mão de Zenaide ou
João Honorato do Nascimento. Isso mais a roupa do corpo, é tudo que o casal
possui. Na semana passada, Zenaide e João Honorato, ambos com 30 anos, mais a
filha Cícera, ou ‘Ciça’, de 11, estavam na estrada. Depois de juntar tudo o que
tinham, atrelar a jumenta e chamar a cachorra Jaqueline, eles deixaram sua
cidade natal de Iguatu, no Ceará, e se puseram a caminho na escaldante BR-020,
com direção a Canindé, 230 quilômetros ao norte...”
(Revista
Veja. 17 ago. 1983. p. 56)
TEXTO 2:

– Anda, excomungado.
O pirralho não se mexeu, e Fabiano desejou matá-lo. Tinha o coração grosso, queria responsabilizar alguém pela sua desgraça. A seca aparecia-lhe como um fato necessário – e a obstinação da criança irritava-o. Certamente esse obstáculo miúdo não era culpado, mas dificultava a marcha, e o vaqueiro precisava chegar, não sabia onde.
Tinham deixado os caminhos, cheios de espinho e seixos, fazia horas que pisavam a margem do rio, a lama seca e rachada que escaldava os pés.
Pelo espírito atribulado do sertanejo passou a idéia de abandonar o filho naquele descampado. Pensou nos urubus, nas ossadas, coçou a barba ruiva e suja, irresoluto, examinou os arredores.
Sinhá Vitória esticou o beiço indicando vagamente uma direção e afirmou com alguns sons guturais que estavam perto. Fabiano meteu a faca na bainha, guardou-a no cinturão, acocorou-se, pegou no pulso do menino, que se encolhia, os joelhos encostados ao estômago, frio como um defunto. Aí a cólera desapareceu e Fabiano teve pena. Impossível abandonar o anjinho aos bichos do mato. Entregou a espingarda a Sinhá Vitória, pôs o filho no cangote, levantou-se, agarrou os bracinhos que lhe caíam sobre o peito, moles, finos como cambitos. Sinhá Vitória aprovou esse arranjo, lançou de novo a interjeição gutural, designou os juazeiros invisíveis.
E a viagem prosseguiu, mais lenta, mais arrastada, num silêncio grande.
Ausente do companheiro, a cachorra Baleia tomou a frente do grupo. Arqueada, as costelas à mostra, corria ofegando, a língua fora da boca. E de quando em quando se detinha, esperando as pessoas, que se retardavam.”
(RAMOS,
Graciliano. Vidas secas. 16 ed. São Paulo. Martins, 1967. P. 8-9)
A seguir, um quadro comparando os principais elementos das dias mensagens, dos dois textos:
TEXTO 1
|
|
Fato
|
Migração
|
Código utilizado para
representar o fato
|
Língua
Portuguesa
|
Função predominante da
linguagem
|
Referencial
|
Objetivo do emissor
|
Informar o
leitor
|
Ponto de vista do emissor
|
Objetivo: o emissor relata fatos que presenciou ou de que tomou
conhecimento
|
Ambiente descrito
|
Real
|
Elementos humanos
|
Pessoas que realmente existem ou existiram
|
Palavras em sentido CONOTATIVO
|
NÃO HÁ
|
TEXTO 2
|
|
Fato
|
Migração
|
Código utilizado para
representar o fato
|
Língua
Portuguesa
|
Função predominante da
linguagem
|
Poética
|
Objetivo do emissor
|
Informar e
sobretudo provocar emoção no leitor
|
Ponto de vista do emissor
|
Subjetivo: o emissor revela pensamentos e emoções das personagens
|
Ambiente descrito
|
Inventado
pelo escritor
|
Elementos humanos
|
Pessoas que não existiram, nem existem de verdade
|
Palavras em sentido CONOTATIVO
|
“vermelho indeciso”, “vôo negro”, “coração grosso”
|
(FARACO & MOURA, "Lingua e Literatura". Ed. Ática, 1995)
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